Sentado
num salão, amplo e iluminado. As cadeiras com estofado vermelho e
estilo do século 19. As pesadas cortinas verdes. O papel de parede
francês. O chão de mármore. E lá no fundo, distante, uma parede de vidro
que dava para o mezanino. Atrás da paredes um balcão, algumas cadeiras
de escritório, o display da companhia e por fim a última e mais
importante imagem, os pés dele.
Neste momento, entra no salão uma jovem
faxineira; negra, alta, cabelo amarrado com um pano, o balde e o pano na
mão. Ela cruza o salão parando em frente a uma grande estufa
transparente e começa.
"E quando o desejo vem é teu nome que eu chamo,
posso até gostar de alguém mas é você que eu amo; Fica dentro do meu
peito sempre uma saudade, só pensando no seu jeito eu amo de verdade".
Repetidas vezes o refrão correu o salão, reverberava sentimento, emoção e
pureza. A voz, que bela voz. Meu peito se enche de esperança e
angústia; a primeira lágrima escorre, e neste momento o timbre dela
forja para sempre um dos momentos mais intensos da minha vida. A voz que
ecoa até hoje em mim.