quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

marcas


ainda que levasse no corpo a prova irrefutável daquilo que deveria ser considerado, ao menos por alguns seria, a marca profunda do seu caráter questionável, era tarde, e tarde sendo, hora de voltar à casa. 

ele entrou no ônibus foi se equilibrando até a catraca, pagou a passagem e se sentou ao lado de uma senhora que lia um desses jornais sensacionalistas: mas esse mundo não tem mais jeito mesmo, todos os dias você abre o jornal e vê o que, desgraça e mais desgraça, é só isso, sangue, calamidade, enchente, escândalo político, escândalo sexual, filho matando pai, pai matando filho; não há o menor sinal de salvação para essa nossa humanidade, que, aliás, de humana não tem nada; é simplesmente um absurdo ver como as coisas acontecem e o governo não dá a mínima, a gente que é pobre só sofre, sofre a vida toda pra chegar na minha idade ganhando uma aposentadoria medíocre e ainda tendo que trabalhar; mas, sem dúvida, o pior é essa criminalidade esses jovens hoje roubam e matam por qualquer coisa a vida não vale mais nada. 

licença aí tia. como? meu ponto é o próximo. assim! vá com deus menino. na paz tia. 

o rapaz desceu no ponto da sua casa, e ainda assustado, não só com as tais marcas profundas de caráter como também as marcas visíveis deste mesmo caráter frágil, ou quem sabe, dúbio; em casa satisfeito estava com o silêncio, entrou no banheiro e lavou com bastante sabão as mãos cheias de sangue.

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